Labirinto
Parei à entrada do labirinto, onde li, bem alto, o aviso:
"Escreve como quem escreve para um filme. Não escrevas como quem escreve para ser lido".
Se as palavras me prenderam a ti, só as palavras me podem libertar, pensei.
Faço um esforço, reaprendo a escrever.
Mas escrever é um vício em mim, ele mesmo cheio de vícios.
Devagar, começo a procurar ver as palavras, mais do que as sentir e explicar.
Faço um esforço e começo a ver para além delas.
Há uma cena.
Um som.
Um plano.
Uma música.
Um olhar.
Uma voz.
Um toque.
Um diálogo.
Um suspiro.
Uma tatuagem.
Não te vejo.
Vejo-te.
És tu.
Sempre tu.
Quando escrevo, escrevo-te, escrevo-me.
E perco-me, uma e outra vez.