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Contos e ditos

A escrita é aquilo que eu sou. Por vezes, escrevo contos, outras vezes desabafos, um ou outro texto breve, alguns dias, poemas. Eu encontro-me na prosa, perco-me na poesia. Sempre de um jeito livre, simples e despretensioso, porque eu sou assim.

Contos e ditos

A escrita é aquilo que eu sou. Por vezes, escrevo contos, outras vezes desabafos, um ou outro texto breve, alguns dias, poemas. Eu encontro-me na prosa, perco-me na poesia. Sempre de um jeito livre, simples e despretensioso, porque eu sou assim.

16
Mai18

Amores a dias

Inês Aroso

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Lina ama a dias. Despe o corpo de pudores. Veste a alma de sonhos.

Ama dia-sim, dia-não. Nos dias em que não ama odeia. Odeia o amor. 

Nesses dias-não, amaldiçoa o dia em que o conheceu. Recorda momentos que viveu com ele com tanta nitidez e pormenor que os poderia imprimir numa tela gigante, sem perder resolução. Os seus olhos rasgados, o seu sorriso, as mãos que a conduzem sempre, apenas e só, até onde ele a quer levar.

Quer pensar no mal que ele lhe causa, para o poder esquecer. Sabe que enquanto o odiar o vai continuar a amar (mesmo que seja só a dias). Nos dias em que ele quiser. Nos dias em que ela o deixa invadir o seu dia, o seu íntimo, as suas noites, o seu leito.

Quando ele a faz rir, ela sente a vertigem, da caminhada junto ao abismo. E, às vezes, incauta, segue-o.

Por vezes, Lina afasta-se. Mas a presença dele reforça-se nessa ausência. Quanto mais se quer esquecer dele e se afasta, mais pensa nele.

Poderiam ser amantes. E não são? Não. Na verdade, nunca foram.

Poderiam ser amigos. Mas também não são, não há amizades a dias, ao contrário dos amores.

Poderiam ser namorados. Ou até casar. Mas se calhar ele não a achou mulher para casar. E sim, casou. Mas não com Lina.

São algo que não encaixa em nenhum catálogo dos relacionamentos. Às, vezes, vão ao cinema, numa sessão da tarde, com pouca gente. Noutras alturas, vão jantar com amigos, escondem-se, beijam-se e deixam a sangria levar a melhor. No dias de sol, adoram fugir mais cedo do trabalho e passearem descalços na praia. Mais raras vezes, enroscam-se no sofá de casa dela (claro!), a lerem livros e verem televisão. Também planeiam viagens, que nunca farão. Pelo menos, juntos. Mas ela costuma adormecer, sozinha, a imaginar a viagem que fariam. O livro que leriam juntos. A fantasia que realizariam juntos.

Lina podia esquecê-lo. Arranjar alguém, por inteiro. Tem tudo para o conseguir: beleza, inteligência, pretendentes. Mas não consegue libertar-se. Sente-se um despojo de um temporal. Diz-se por aí que é algo chamado paixão.

Ele não é o mau-da-fita, nem ela, a leviana inconsequente. A diferença é que ele vive. Ela apenas sobrevive.

Lina ama a dias, para não morrer de amores.

 

 

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