A escrita é aquilo que eu sou. Por vezes, escrevo contos, outras vezes desabafos, um ou outro texto breve, alguns dias, poemas. Eu encontro-me na prosa, perco-me na poesia. Sempre de um jeito livre, simples e despretensioso, porque eu sou assim.
A escrita é aquilo que eu sou. Por vezes, escrevo contos, outras vezes desabafos, um ou outro texto breve, alguns dias, poemas. Eu encontro-me na prosa, perco-me na poesia. Sempre de um jeito livre, simples e despretensioso, porque eu sou assim.
Sara questiona-se sobre o sentido da vida. Até parece um cliché! Para quê tudo isto? Para quê tanto sacrifício, em troca de breves momentos de felicidade?".
O tempo que passa duplica as lágrimas. Os sorrisos são cada vez mais escassos e forçados. A paciência, que esbanjava, vai fugindo a cada dia, como a areia entre os dedos, quando a tentamos agarrar. Tudo custa. Tudo é árduo. Tudo menos dormir. Ou, pelo menos, fingir que dorme.
Deixou de ser a protagonista da sua própria vida. Deixou de ter uma história para viver e, quem sabe, contar. A vida passa-lhe ao lado. Sente não fazer falta a ninguém, já que não faz parte de qualquer história.
"Vira a página", dizem-lhe os outros, convictos. Não percebem que ela está lá, no fundo de cada página, sempre. Passou a ser uma nota de rodapé, daquelas bem pequenas, em letra miudinha, que ninguém tem paciência, ou capacidade, para ler. Ninguém a lê, mas ela está lá.
Naquele que parecia um dia igual aos outros, de mais um encontro entre amigos, um deles, Vasco, repara na nota de rodapé. Fica estupefacto, era raro encontrar textos naquele idioma. Mas ele traduz. Vê página por página. Amplia as letras. Percebe a história. Sim, porque, afinal, Sara tem uma história. História essa demasiado bonita e complexa para caber numa nota de rodapé.
Vasco pede a Sara para escrever um livro. Ela dá-lhe um rascunho e ele edita-o.Traduz esse esboço para a língua das pessoas felizes. Aumenta o tamanho da letra, dá cor às páginas, troca as palavras contidas por aquelas que ela não ousava usar, sobe-a à categoria de protagonista. Sara reaprende a escrever. Reaprende a viver. Há novos cheiros, novos sons, novos sabores, novas imagens, novas sensações... Sempre estiveram lá, afinal.
Antes de pedirem a alguém para virar a página, verifiquem se essa pessoa não está lá, bem no fundinho do (que parece ser o) texto principal, a gritar por ajuda. Ninguém quer ser uma nota de rodapé.
Naquela manhã, Joana acordou diferente. Via uma luz difusa a invadir o quarto. Algo que nunca tinha visto no seu quarto, sempre tão escuro: a janela dava para uma parede enorme e nunca batia o sol.
Ouvia sons de pássaros e não de carros, nada do falatório, comum em plena faixa de travessia de peões e paragem de vários autocarros. Sentiu um ar diferente, cheirava a mar e a natureza, nada do cheiro de combustível.
Foi aí que, colocando as mãos nos lençóis, achou que eram mais macios, o colchão muito melhor do que o seu. Olhou à sua volta e viu que não estava em sua casa. Definitivamente, não era o seu quarto e cozinha minúsculo, naquele prédio velho e com muitas tábuas soltas.
Assustada, levantou-se mas não conseguiu ficar em pé, a cabeça doía e as pernas não reagiam... Onde estava ela e o que acontecera? Tentou novamente mas sem sucesso... Viu que estava vestida com uma camisola de dormir nova, mas lembrava de a ter comprado... Também tinha meias e roupa interior que reconheceu...Ufa... ao menos tinha tudo no lugar!
Mais uma vez, a tentar levantar, agora com sucesso. Acendeu a luz e viu que estava num quarto diferente, bonito, bem decorado. Vai à casa de banho e vê amenidades sobre o lavatório onde lê: "Hotel Magnólia".
Puxou pela cabeça e finalmente lembrou-se! Tinha sido a despedida de solteira da irmã... Tinham sido muitos copos para quem tem uma rotina cruel na recessão de uma advocacia.
Ainda confusa, mas aliviada, Joana tomou um duche demorado, aproveitando cada segundo... Abriu a janela e viu o sol e o mar. A vista precisava atravessar alguns prédios, mas via-se o mar e o Sol.
Bateram à porta. Era a sua irmã, para irem tomar o pequeno-almoço. A festa tinha sido linda, um fim-de-semana espetacular, até mais para a Joana que para a noiva.
Na segunda à noite, ao chegar do trabalho ao seu apartamento minúsculo, Joana olhou bem para o local, as suas coisas, a sua cama, abriu a janela e ouviu o ruído dos carros. Fechou a janela, abriu o computador e foi procurar um lugar melhor para viver.
Naquele final de semana fechou a porta do minúsculo apartamento pela última vez. Mudou-se para outro pequeno apartamento com vistas para o mar, mais próximo do trabalho e com um colchão sensacional.
Para sair da zona de conforto é preciso conhecer outras vantagens. Aventure-se!
Lina ama a dias. Despe o corpo de pudores. Veste a alma de sonhos.
Ama dia-sim, dia-não. Nos dias em que não ama odeia. Odeia o amor.
Nesses dias-não, amaldiçoa o dia em que o conheceu. Recorda momentos que viveu com ele com tanta nitidez e pormenor que os poderia imprimir numa tela gigante, sem perder resolução. Os seus olhos rasgados, o seu sorriso, as mãos que a conduzem sempre, apenas e só, até onde ele a quer levar.
Quer pensar no mal que ele lhe causa, para o poder esquecer. Sabe que enquanto o odiar o vai continuar a amar (mesmo que seja só a dias). Nos dias em que ele quiser. Nos dias em que ela o deixa invadir o seu dia, o seu íntimo, as suas noites, o seu leito.
Quando ele a faz rir, ela sente a vertigem, da caminhada junto ao abismo. E, às vezes, incauta, segue-o.
Por vezes, Lina afasta-se. Mas a presença dele reforça-se nessa ausência. Quanto mais se quer esquecer dele e se afasta, mais pensa nele.
Poderiam ser amantes. E não são? Não. Na verdade, nunca foram.
Poderiam ser amigos. Mas também não são, não há amizades a dias, ao contrário dos amores.
Poderiam ser namorados. Ou até casar. Mas se calhar ele não a achou mulher para casar. E sim, casou. Mas não com Lina.
São algo que não encaixa em nenhum catálogo dos relacionamentos. Às, vezes, vão ao cinema, numa sessão da tarde, com pouca gente. Noutras alturas, vão jantar com amigos, escondem-se, beijam-se e deixam a sangria levar a melhor. No dias de sol, adoram fugir mais cedo do trabalho e passearem descalços na praia. Mais raras vezes, enroscam-se no sofá de casa dela (claro!), a lerem livros e verem televisão. Também planeiam viagens, que nunca farão. Pelo menos, juntos. Mas ela costuma adormecer, sozinha, a imaginar a viagem que fariam. O livro que leriam juntos. A fantasia que realizariam juntos.
Lina podia esquecê-lo. Arranjar alguém, por inteiro. Tem tudo para o conseguir: beleza, inteligência, pretendentes. Mas não consegue libertar-se. Sente-se um despojo de um temporal. Diz-se por aí que é algo chamado paixão.
Ele não é o mau-da-fita, nem ela, a leviana inconsequente. A diferença é que ele vive. Ela apenas sobrevive.